segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Células-tronco preservam doença genética

SÃO PAULO - Pesquisadores americanos deram mais um passo importante rumo ao aproveitamento de células reprogramadas no estudo de doenças genéticas graves. Pouco mais de um ano após cientistas da Universidade de Wisconsin-Madison anunciarem a obtenção das primeiras linhagens de células-tronco de pluripotência induzida (iPS, em inglês), uma equipe da mesma instituição publica hoje na revista Nature um trabalho mostrando que essas células podem ser transformadas em neurônios motores que preservam as características da doença.

O experimento foi feito com células de uma criança portadora de atrofia muscular espinhal (AME), doença causada por uma mutação gênica que bloqueia a síntese de uma proteína essencial ao funcionamento dos neurônios motores da medula espinhal - que transmitem os impulsos nervosos do cérebro para os músculos. Os cientistas retiraram células da pele da criança e as transformaram em células iPS, usando a técnica de reprogramação genética desenvolvida no ano anterior. Em seguida, induziram as células iPS, que têm características equivalentes às de células-tronco embrionárias, a formar neurônios motores in vitro

Nesse caso, a intenção não é produzir células saudáveis, para uso terapêutico. O que os pesquisadores querem, de fato, é produzir células doentes, idênticas às do organismo, para que possam estudar os mecanismos celulares da doença em laboratório. Como não podem retirar neurônios diretamente da medula do paciente, a única maneira de fazer isso é via a transformação de células iPS, contendo o mesmo genoma (e as mesmas mutações) da pessoa.

"Este é o primeiro estudo a mostrar que células-tronco humanas de pluripotência induzida podem ser usadas para modelar patologias específicas observadas em doenças genéticas hereditárias", escrevem os pesquisadores na Nature. "Nesse sentido, representa um recurso importante para o estudo dos mecanismos da doença, para o teste de novas drogas e o desenvolvimento de novas terapias."

Outros estudos já haviam relatado a transformação de células iPS de pacientes portadores de outras doenças genéticas, como esclerose lateral amiotrófica, distrofia muscular e doença de Huntington. Nesses casos, porém, não foi demonstrado se os neurônios produzidos mantinham as características da doença.

A atrofia muscular espinhal é caracterizada pela baixa (ou nenhuma) expressão da proteína SMN, que significa "sobrevivência de neurônios motores" em inglês. Como o nome já indica, a mutação causa uma degeneração progressiva dos músculos, que deixa o paciente debilitado e pode levá-lo à morte logo nos primeiros anos de vida.

A equipe de Wisconsin comparou o nível de expressão da proteína nos neurônios derivados da criança doente ao dos neurônios derivados de sua mãe sadia. Percebeu, então, que as células da criança produziam muito menos SMN do que as da mãe, como é característico da doença.

"O trabalho ratifica a importância da reprogramação celular como estratégia eficiente para a busca de novos medicamentos que, a partir de agora, podem ser testados em modelos de doenças complexas desenvolvidos em laboratório", diz o especialista brasileiro Stevens Rehen, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que recentemente trouxe a primeira autora do trabalho, Allison Ebert, para dar cursos em seu laboratório.

Outro autor da pesquisa é o pioneiro das células-tronco de Wisconsin, James Thomson, que em novembro de 2007 produziu uma das primeiras linhagens de células iPS humanas, em paralelo com uma equipe japonesa.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Pesquisas com células-tronco ainda não têm data para apresentar resultados

Mariana Jungmann
Repórter da Agência Brasil


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Brasília - Ainda não há previsão para os resultados das pesquisas com células-tronco embrionárias, que passaram a ser definitivamente permitidas no Brasil após o julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF), em maio.

De acordo com a vereadora paulista Mara Gabrilli, que é tetraplégica e preside o Instituto Mara Gabrilli de fomento a esse tipo de pesquisa, o avanço ao separar a primeira linhagem de células-tronco embrionárias ainda não permite fazer previsões concretas sobre o que será alcançado ou quando. “É muito difícil algum pesquisador dar data”, diz Mara.

Ela alega que as pesquisas não vão chegar a tratamentos “como aspirinas, que você toma e sai correndo”, mas se garantirem qualidade de vida aos pacientes, já terão atingido o objetivo. “A gente tem que ter na mira qualidade de vida. Uma pessoa que era paraplégica e passa a ter controle do esfíncter, já é qualidade de vida para essa pessoa. Aqueles que respiram com ajuda de aparelhos se passarem a respirar sozinhos, já é um grande avanço na vida deles”, explica.

Mara cita também os avanços que podem ser alcançados nas pesquisas com células-tronco em doenças degenerativas. Segundo ela, se o tratamento conseguir reter a doença, já será um ganho. “Nós estamos falando de gente que luta com a morte todos os dias”, completa.

O Instituto Mara Gabrilli capta recursos para as pesquisas, promove debates e eventos e leva a discussão para autoridades, como os ministros do Supremo na época do julgamento sobre a liberação das pesquisas com células-tronco embrionárias.

Apesar da falta de promessas, a expectativa das pessoas que dependem desse tipo de tratamento é grande. Segundo o médico colaborador do Instituto Brasileiro dos Direitos das Pessoas com Deficiências (IBDD), estamos no limiar de um novo tempo em que haverá possibilidades, quando hoje o conceito é de que não há esperança.

“As pessoas têm grande expectativa de que poderão deixar de ter uma deficiência, uma incapacidade física com o tratamento de células-tronco”, acrescenta.