domingo, 15 de junho de 2008

Cientistas criam molécula que causa maturidade de células-tronco

Uma descoberta acidental durante outra experiência levou os pesquisadores do centro médico Southwestern da Universidade do Texas à criação de uma pequena molécula que estimule o amadurecimento de células-tronco do sistema nervoso, segundo a revista "Nature Chemical Biology".

Isso poderia permitir no futuro o cultivo das células-tronco nervosas de uma pessoa fora do corpo, o estímulo a seu amadurecimento, e a reimplantação como células que funcionem para o tratamento de várias doenças, segundo os pesquisadores.

"Isto fornece um ponto de partida crítico para a medicina neurodegenerativa e a quimioterapia do câncer cerebral", disse Jenny Hsieh, professora de biologia molecular e autora do estudo.

A criação da molécula permitiu que os cientistas revelassem alguns dos passos bioquímicos que ocorrem quando as células dos nervos amadurecem.

Os cientistas iniciaram este projeto como resultado de um estudo separado onde examinaram 147 mil compostos para ver qual podia estimular as células-tronco cultivadas de embriões de roedores para que se desenvolvessem como células cardíacas.

Inesperadamente, cinco moléculas estimularam as células-tronco para que se transformassem em formas parecidas a células nervosas.

Depois, os pesquisadores criaram uma variação destas moléculas em um novo composto chamado Isx-9.

Este composto foi mais fácil de usar que seus semelhantes descobertos inicialmente, porque funcionou em uma concentração muito mais baixa e também se diluiu mais facilmente em água.

"Foi completamente ao acaso que descobrimos esta pequena molécula que gera células nervosas", disse Hsieh. Penso que é uma das pequenas moléculas neurogênicas mais poderosas do planeta".

"Em teoria, esta molécula poderia causar o amadurecimento pleno, ao ponto que as novas células nervosas poderiam gerar os sinais elétricos necessários para o funcionamento completo", acrescentou.

As células-tronco nervosas se encontram em grupos dispersos em várias áreas do cérebro. Estas células são capazes de se transformar em vários tipos diferentes de células, não todas nervosas.

No estudo, as células-tronco nervosas de roedores tomados de uma área do cérebro chamada hipocampo foram cultivadas com Isx-9. Estas células se aglomeraram e desenvolveram finos apêndices, o que ocorre tipicamente quando se produzem células nervosas em um cultivo.

O Isx-9 impediu que essas células-tronco se desenvolvessem em outros tipos de células não nervosas e foi mais potente que outras substâncias neurogênicas na estimulação do desenvolvimento de células nervosas. A molécula gerou de duas a três vezes mais células nervosas e outros compostos que se usam comumente.

Os cientistas acreditaram durante décadas que o cérebro dos mamíferos adultos não podia gerar novas células nervosas. Por outro lado, a aprendizagem e a memória eram estritamente resultados do estabelecimento no cérebro de novas conexões entre as células existentes.

No entanto, agora se sabe que o cérebro cria constantemente novas células nervosas. No hipocampo, que é ligado à aprendizagem e à memória, as células-tronco amadurecem como células nervosas completas a um ritmo de mil por dia, disse Hsieh.

Os cientistas sabem também que quando uma célula nervosa madura e envia um sinal químico chamado neurotransmissor, as células começam a amadurecer, mas até agora não conhecem os processos bioquímicos ou os genes envolvidos, acrescentou.

"A grande brecha em nosso reconhecimento é como controlar estas células-tronco", disse Hsieh.

O Isx-9 aparentemente atua como um sinal neurotransmissor sobre as células-tronco nervosas. Mediante o cultivo de células-tronco com o composto, os cientistas identificaram um possível processo bioquímico pela qual as células-tronco começam a se transformar em células do tecido nervoso.

EFE

Agência EFE - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização escrita da Agência EFE S/A.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Células-tronco: de Galileu ao STF (Pedro do Coutto - Tribuna da Imprensa)

Depois de cinco anos de identificação, finalmente, por escassa maioria, o Supremo Tribunal Federal decidiu rejeitar a ação de inconstitucionalidade contra a lei dos embriões e autorizar o prosseguimento das pesquisas científicas com as células-tronco. Trata-se apenas - o que por si é tudo - de tentar regenerar seres humanos, devolver-lhes movimento adequado, salvar vidas.

No artigo que publicou na edição de 29 de maio desta TRIBUNA DA IMPRENSA, comentando a véspera do julgamento, Helio Fernandes referiu-se ao florentino Galileu. É isso mesmo, no ano de 1610, Galileu foi obrigado pela Igreja Católica a recuar formalmente de sua teoria de que a Terra era redonda e movia-se em torno de si mesma. Por isso, quando se discutiu se a ciência deveria prosseguir ou não, eu coloquei gênio de Florença no título.

Seu nome, na realidade, através dos séculos, tornou-se talvez o maior emblema da eterna luta contra o obscurantismo. Sobretudo o obscurantismo religioso, que transforma a religião numa espécie de equipe esportiva. Há quarenta anos contra o divórcio. Foi vencida pelos fatos. De 1500, quando o Brasil era descoberto, até o ano de 1800, a Inquisição. Três séculos antes da Inquisição, as cruzadas, apoiadas pela Inglaterra e pela França.

Pretexto: regatar o Santo Sepulcro, que seria o túmulo de Jesus Cristo. Mas como? Para o Vaticano, ele ressuscitou e subiu aos céus. Portanto, sob esta ótica, o lugar onde se encontra não é neste planeta. Além disso, a Igreja de Roma conviveu com a escravidão durante mais de três séculos. Por falar em Galileu, cientista e poeta, que se apresentava como mensageiro das estrelas, o pedido de perdão, por parte do Vaticano, foi formalizado pelo papa João Paulo II, mil e quatrocentos anos depois de sua prisão, quase excomunhão, e, pior, condenação capaz de levá-lo até a morte, se não recuasse.

Seu crime: usar a mensagem dos astros e das estrelas para provar que a Terra era redonda. Bartolomeu Dias, em 1487, Vasco da Gama, em 1490, Cristóvão Colombo, em 1492, e Pedro Álvares Cabral, em 1500, todos da Escola de Sagres, cruzaram os oceanos mais de cem anos antes de Galileu. Foram protagonistas da maior aventura humana. Vejam o medo das tripulações: se o planeta fosse quadrado, as caravelas poderiam despencar no abismo. Nem estes fatos convenceram a Cátedra de São Pedro, como Oto Maria Carpeaux chamava o Estado do Vaticano.

Agora as células-tronco. Incrível a oposição à lei que, em seu conteúdo, não manda fazer nada. Somente autoriza a seqüência das pesquisas no Brasil, como já existe numa série de países do mundo. Vejam só os leitores. A energia nuclear, a partir da desintegração do átomo, começou no mundo com o projeto Manhattan, que levou às bombas lançadas contra Hiroshima e Nagasaki. Destruição terrível.

Hoje, a energia nuclear é amplamente usada para combater uma série de doenças malignas, graves todas, mortais uma parte substancial delas. Imagine se por causa das bombas de Hiroshima e Nagasaki o uso da energia atômica fosse proibido. O inventor da dinamite foi o primeiro vencedor do Prêmio Nobel. Explosivo voltado para destruir. Mas que, reflexivamente, conduziu a humanidade a um sem número de construções. Assim, a invenção do radium por uma cientista, Madame Curie. Deveríamos ter proibido a pesquisa por causa da contaminação que alguns casos provocaram?

Na verdade, a interdição encontra-se eternamente na contramão da história. Desde a Grécia, seiscentos anos antes de Cristo, obras teatrais fantásticas foram proibidas. Estão aí sendo montadas até hoje. A começar pelo Édipo, papel que Paulo Autran imortalizou no Rio em 1967, direção de Flávio Rangel. Podem pesquisar à vontade: ninguém será capaz de apresentar uma única peça, um único livro, um único ensaio científico, uma única matéria jornalística que, interditados em algum momento de sombra, depois não tenham sido exibidos e veiculados livremente. As células-tronco, no Brasil, a partir de agora, incluem-se nesse cenário.

Como é possível rejeitar-se a pesquisa com células-tronco, argumento muito firme de Elena, minha mulher, se aceitamos o transplante. O que é o transplante? É retirar-se um órgão de alguém com morte cerebral, porém com o coração batendo, para aproveitá-lo em outro ser humano, que, para viver, necessita dele. Aí neste caso, sim, a ciência está antecipando a morte, irreversível, para garantir a vida. Se valer o transplante, como não deveriam valer os embriões? Os adversários do futuro, no Supremo Tribunal Federal, inclusive não conseguiram enfrentar o desafio de frente.

Não. Procuraram contornar o desfecho com subterfúgios, ampliando a distância entre a ciência e seu objetivo. Por que isso? Não se compreende a visão obscurantista. Afinal, não se estava disputando nada na Corte Suprema. Estava-se debatendo o progresso, o conhecimento humano, o futuro. Em 1969, Alan Armstrong tornou-se o primeiro ser humano a chegar à Lua. Pode-se dizer que conseqüências diretas não houve. Mas e as indiretas? Houve uma aventura alada que rompeu os limites até então existentes. Depois da ruptura, a ciência deu saltos enormes. Um deles a informática. Assim caminha a humanidade.