domingo, 23 de março de 2008

Ministro defende polêmica lei sobre embriões frente a críticas de católicos

23/03/2008 - 18h38

Londres, 23 mar (EFE).- O ministro britânico de Saúde, Alan Johnson, defendeu hoje o polêmico projeto de lei do Governo trabalhista sobre pesquisas embrionárias e fertilidade, frente às duras críticas da Igreja Católica.

O projeto legislativo, que se submeterá a votação na Câmara dos Comuns nas próximas semanas, contempla a criação de embriões híbridos, que combinam DNA de animais e seres humanos, destinados à pesquisa com fins terapêuticos.

Em declarações a vários meios de imprensa, Johnson afirmou hoje que é uma "distorção dizer, como fez a igreja católica neste país, que a iniciativa governamental produzirá 'Frankensteins' ou 'monstros híbridos'".

Segundo o ministro, o projeto de lei pode ajudar a conseguir tratamentos para curar doenças como o Alzheimer ou o Parkinson.

A controverso projeto poderia provocar uma dissidência no próprio Governo, que pediu a seus deputados disciplina de voto nesses assuntos, uma decisão que inquieta os três ministros católicos que fazem parte do Executivo: Des Browne (Defesa), Ruth Kelly (Transportes), e Paul Murphy (ministro para Gales).

O arcebispo de Westminster, Cormac Murphy-O'Connor, primaz católico da Inglaterra e Gales, pediu hoje ao primeiro-ministro do Reino Unido, Gordon Brown, que permita aos deputados trabalhistas votar de acordo com suas consciências.

"Acho que os católicos na política devem atuar segundo suas convicções católicas, como fazem outros cristãos e outros políticos", disse o arcebispo.

O cardeal Keith O'Brien, primaz católico na Escócia, foi mais contundente e qualificou o projeto legislativo de "ataque monstruoso contra os direitos humanos, a dignidade humana e a vida humana".

Ao contrário do Governo, os líderes dos partidos Conservador, David Cameron, e Liberal-democrata (terceira força política britânica), Nick Clegg, deram liberdade de voto a seus parlamentares.

UOL

quarta-feira, 12 de março de 2008

Instituto Nacional de Terapia Celular corresponderá à cabeça do respectivo sistema (organização sistêmica do setor)

Ministério lança em abril o Instituto Nacional de Terapia Celular
12/03/2008
Agência FAPESP – O Ministério da Saúde programou para abril o lançamento do Instituto Nacional de Terapia Celular (INTC), de acordo com informações divulgadas pelo ministro da Saúde, José Gomes Temporão

Segundo o ministro, o INTC será uma rede de conhecimento que funcionará virtualmente com a proposta de integrar um conjunto de instituições de pesquisas e centros universitários para a troca de experiências com células-tronco.

O Ministério da Saúde informou que a cooperação entre as instituições possibilitará maior integração entre os pesquisadores, além da padronização de alguns processos de pesquisa em todo o Brasil.

A proposta de criação do instituto foi mantida mesmo sem a decisão final do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a constitucionalidade da Lei de Biossegurança, que prevê a realização de pesquisas com células-tronco embrionárias humanas.

Mesmo com a decisão do STF em aberto, o ministro assegurou que as pesquisas em curso com células-tronco financiadas com recursos dos ministérios da Saúde e Ciência e Tecnologia não serão suspensas.

Dados do Ministério da Saúde mostram que, desde 2005, os dois ministérios (Saúde e MCT) já garantiram R$ 24 milhões para pesquisas com células-tronco. Segundo Temporão, são estudos voltados para doenças nas quais a terapêutica celular pode revolucionar a medicina. O INTC conta ainda com um investimento de R$ 30 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

terça-feira, 11 de março de 2008

Continuidade da vida - Por Thiago Romero




11/03/2008

Agência FAPESP – Antes da esperada decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o futuro das pesquisas com células-tronco embrionárias humanas no Brasil, o britânico naturalizado norte-americano Oliver Smithies, ganhador do Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia em 2007, esteve em São Paulo e aproveitou o importante assunto.

Segundo o professor da Escola de Medicina da Universidade da Carolina do Norte, há um grande mal entendido em relação ao significado de uma célula-tronco embrionária estar viva ou morta.

“Assim como sabemos se uma planta ou um animal estão vivos, também podemos identificar vida em uma célula-tronco embrionária humana e, quando a descartamos, estamos condenando o potencial da célula e outras pessoas à morte. No momento em que a reutilizamos, podemos reconstituir tecidos e outras partes dos seres humanos, fazendo com que a célula cumpra seu papel de doadora de vida”, disse.

Smithies ministrou, na tarde de segunda-feira (10/3), em São Paulo, a palestra de abertura do 1º Simpósio Brasileiro de Tecnologia Transgênica, promovido pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Até 12 de março, o evento colocará em discussão o potencial terapêutico e econômico da aplicação da transgenia em animais.

Aos 82 anos, Smithies afirmou que ficaria muito contente se, quando morrer, partes de seu corpo puderem ser utilizadas para salvar outras vidas. “Da mesma forma, se em vez de serem descartados, os embriões humanos forem usados para fins terapêuticos, eles contribuirão para manter a vida.”

“Acredito que, em breve, o uso das células-tronco embrionárias será naturalmente aceito e fará parte do cotidiano da ciência”, apontou Smithies, que, ao lado de Mario Capecchi e Martin Evans, recebeu o Prêmio Nobel por ter desenvolvido uma técnica conhecida como “nocaute genético”, que permite apagar genes para a modificação do genoma de células-tronco embrionárias de camundongos.

A partir do conhecimento de que determinados genes causam doenças humanas específicas, por meio da técnica é possível modificar esses mesmos genes em uma célula-tronco embrionária de cobaia e criar um novo camundongo transgênico com uma modificação genética que imite a doença, de modo que sejam testadas, por exemplo, novas drogas para seu tratamento.

“A técnica consiste no isolamento das células dos embriões dos animais para a posterior alteração dos genes de interesse. Com isso, identificamos genes-alvo e os perturbamos até eles desaparecerem, visando à geração de outros animais modificados que servirão de modelo para o estudo de doenças humanas”, explicou.


Modelos animais

Smithies lembrou que esses avanços tiveram início em uma iniciativa ousada de Evans que, em 1985, isolou pela primeira vez células-tronco embrionárias de um camundongo e as levou, no bolso, até o laboratório do grupo. “Foi quando começamos a estudar esse tipo de célula. Desde então, conseguimos os primeiros camundongos com os genes alterados”, lembrou.

Para João Bosco Pesquero, diretor do Centro de Desenvolvimento de Modelos Experimentais para a Medicina e Biologia (Cedeme) da Unifesp, com a técnica de Smithies e colaboradores será possível gerar animais transgênicos com modificações de interesse medicinal em seu genoma.

“Os modelos animais podem auxiliar no entendimento de como certas doenças surgem, se propagam e devem ser tratadas”, disse o organizador do simpósio. Nesse caso, não estaria descartado o tratamento de pacientes com algum tipo de disfunção genética utilizando terapias celulares que modificam genes dos indivíduos.

Smithies, que trabalha com biologia molecular desde antes de 1953, quando ainda não era demonstrado que o DNA era responsável pela transmissão de características hereditárias, atualmente utiliza células-tronco embrionárias para desenvolver outras cobaias que são usadas no estudo de doenças como fibrose cística, hipertensão e problemas renais.

Mais informações sobre o 1º Simpósio Brasileiro de Tecnologia Transgênica: http://proex.epm.br

domingo, 9 de março de 2008

AGU defende pesquisa com células-tronco baseada em Lei dos Transplantes

Agência Brasil

O advogado-geral da União, José Antônio Dias Tófolli, utilizará dois argumentos para defender nesta quarta-feira (5/2), no Supremo Tribunal Federal, a constitucionalidade do artigo 5º da Lei de Biossegurança, que prevê a utilização de células-tronco embrionárias em pesquisas.

O primeiro argumento a favor será baseado no Código Civil, que diz que a personalidade jurídica da pessoa tem início com o nascimento. Segundo Tófolli, a Constituição Federal não tem como proteger o direito dos embriões porque eles ainda não são pessoas.

“Se for considerar os embriões como tendo direito à vida, como o Estado garantirá que eles venham a exercer esse direito? O Estado teria que obrigar alguma mulher a recebê-los e gerá-los. O Estado tem o poder de obrigar alguma mulher a fecundar esses embriões e gerá-los? A resposta é não”, argumenta o advogado-geral da União.

A Constituição estabelece o direito à vida, no seu artigo 5º, e é esta a tese utilizada pelo ex-procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, para declarar que os embriões têm que ser protegidos e não podem ser objeto de pesquisa.

O segundo argumento que Tóffoli utilizará será baseado na Lei dos Transplantes, que permite a retirada e doação de órgãos de uma pessoa que esteja biologicamente viva, com o coração batendo, mas sem atividade cerebral, critério utilizado pela medicina para definir a morte. Em paralelo, a ciência declara que o embrião só começa a formar o sistema neurológico (cérebro e coluna vertebral) a partir do 14º dia de fecundação, e os embriões utilizados em pesquisa foram fecundados há no máximo cinco dias.

“Se a morte cerebral permite o transplante, evidentemente que do ponto de vista jurídico poderia então se dizer que aqueles embriões não têm como ser protegidos juridicamente porque eles também não têm ainda nenhum nível de consciência sequer, porque ainda não se desenvolveu o seu cérebro”, explica.

Para Tófolli, caso o Supremo decida que o embrião tem direito à vida, também estará declarando inconstitucional qualquer possibilidade de aborto e abrindo até mesmo a discussão sobre o aborto em caso de estupro, situação que é permitida por lei juntamente com os casos em que a mulher corra risco de vida.

“No caso do risco de vida para a mulher, você tem uma ponderação entre duas vidas, então não seria inconstitucional. Caso o Supremo entenda que é inconstitucional o uso dessas células em pesquisas, então o aborto em razão de estupro com certeza já não poderia mais existir na lei”, afirma.

Apesar de ter a missão de defender amanhã (5) a aprovação das pesquisas com células-tronco embrionárias, Tófolli, que se diz religioso, acha que a posição da Igreja Católica de ser contrária às pesquisas é coerente com o seu papel de defender uma ética de princípios.

“O dia em que a igreja deixar de defender uma ética de princípios ela passa a ser igual a qualquer outra instituição. Aliás, na história da própria igreja, quando ela deixou de defender uma ética de princípio e passou a defender uma ética prática, e algo do nosso mundo, do mundo do dia-a-dia, do mundo do cotidiano, do mundo do estado, ela cometeu uma série de equívocos.”

Terça-feira, 4 de março de 2008

Início da vida e a discórdia sobre o artigo 5º da Lei de Biossegurança - Patricia Bono

Pesquisa em células-tronco embrionárias é o novo carro chefe das discussões entre bioeticistas e biojuristas de plantão. Não que o tema seja novo, mas tomou outro tempero desde que foi votada uma nova norma jurídica, pelos nossos congressitas, a Lei nº 11.105/05 (Lei de Biossegurança), que, logo após, o presidente tratou de sancionar.

Se a história tivesse parado por aí, o discurso de proteção à vida (que implica na reprimenda ao Brasil na pesquisa com células-tronco, clonagem terapêutica, aborto, reprodução humana assistida, entre outros) feito pelos religiosos e pessoas que entendem que a vida se inicia com a concepção (leia-se “com o encontro dos gametas”) teria tido um ponto final.

Mas, em decorrência da tentativa de dar caráter de inconstitucionalidade à Lei de Biossegurança, promovida pelo então procurador-geral da República, Claudio Fonteles, a coisa tomou outro caminho, quando ele propôs uma Adin (ação direta de incostitucionalidade) no STF (Supremo Tribunal Federal).

No Brasil sabemos quando alguém morre, pois existem dispositivos normativos indicando a morte cerebral, o que, aliás, facilita a retirada de órgãos, na conformidade da lei, que resulta na possibilidade de vida para muitos enfermos e, na grande maioria dos casos, em uma real melhora em sua qualidade de vida.

Mas a Adin pretende mesmo é saber quando a vida começa. Se a inconstitucionalidade arguida pelo procurador se cristalizar, o Brasil passa a pensar legalmente da mesma forma que várias religiões, em especial a Católica, que defende o início da vida na fecundação, ou seja, no encontro dos gametas e no surgimento de um inédito código genético, mesmo que este “corpo” que detém tal DNA não tenha meios efetivos de se desenvolver, nascer e ser titular de direitos e obrigações, conforme indica o artigo 2º de nosso Código Civil.

Se a postura for esta, estarão impedidas as pesquisas com relação às células-tronco embrionárias, ou seja, células indiferenciadas que são retiradas de embriões inviáveis para uma gravidez, ou que estejam congelados há mais de três anos.

E, impedidas as pesquisas nestes embriões inviáveis, por uma simples questão de lógica, eles terão um destino certo: o lixo.

E pelo que parece, os defensores do início da vida na ocorrência da concepção, bem como o procurador que aponta a inconstitucionalidade da Lei de Biossegurança entendem que o lixo é um destino zilhões de vezes mais ético que a utilização desses mesmos embriões inviáveis para pesquisas que podem, num futuro muito próximo, livrar de sofrimento os enfermos de acidentes vasculares cerebrais, diabetes, mal de Parkinson, Alzheimer, entre outras tantas possibilidades.

O que me aflige não é a postura de cada Chefe de Estado ou de cada religião sobre o tema, mas sim os desdobramentos que estas mesmas posturas podem provocar.

Fala-se tanto em proteção à vida, fala-se mais ainda sobre qual o momento em que ela começa, mas ninguém se preocupou em conceituar vida. Pelo menos, não no campo jurídico. Certo está que este não deve ser o mote da lei. Todavia, seria uma ferramenta interessante que auxiliaria nossos legisladores na defesa de pessoas que, reféns de posturas que impedem o desenvolvimento tecnológico, pudessem brigar um pouco mais, ou não correr o risco de ver a ciência amordaçada.

Observe, também, que a realização de pesquisas em células-tronco embrionárias somente podem ser realizadas com a autorização dos genitores.

Temos, então, que tão importante quanto a pesquisa é o fato de que o Brasil, através da Lei nº 11.105/05, extremamente altruísta no que tange à pesquisa com células-tronco, cristalizou o direito de escolha. E talvez esse fato também afronte as perspectivas do citado procurador ou dos religiosos que perseguem o engessamento de biopesquisas através de leis. Ora, o Biodireito não tem essa função.

Independentemente do resultado alcançado no dia 05 de março de 2008, durante o julgamento da ação citada, uma norma se sedimentará no acervo jurídico do país. E possibilitar o aborto, a reprodução humana assistida, a pesquisa em células-tronco embrionárias no Brasil, entre outras tantas tecnologias que vão surgindo, significa dar aos cidadãos o direito de escolher sobre seu futuro.

Significa, também, tirar da marginalização as mulheres sem recursos financeiros que correm risco de vida ao buscar a realização do abortamento em clínicas de reputação duvidosa; significa dar alento e a possibilidade de se ter um filho para aquele casal com problemas de fertilidade, significa dar esperança para quem sofre com alguma enfermidade, e vê a medicina com mãos atadas.

Se fala muito acerca da proteção da vida e isso é louvável. Mas só devemos nos preocupar com a vida se ela for uma expectativa? Uma promessa de vida? O que tem os defensores da proibição da pesquisa com células-tronco embrionárias a dizer às pessoas que já estão aqui e que, em decorrência de um fator patológico ou de um trauma, estão impedidas de ver seus sonhos realizados?

E mais, devemos usar dois pesos e duas medidas para analisar as tecnologias que podem dar qualidade de vida aos enfermos? Ora, na bandeira contra o aborto, quem defende a proibição indica que seu objetivo é a proteção à vida. Então, quando a Igreja Católica condena o uso de preservativos poderíamos entender que ela não se preocupa com a Aids? Alguém vai ter que fazer essa lição de casa.

Agora, se pensarmos que o embrião guarda a riqueza do que será sua vida - se vier a nascer - ou seja, o DNA, possivelmente em alguns anos também estarão impedidas as pesquisas na carga genética dos gametas, já que, estes sim, são potenciais condutores da expectativa de um novo ser.

Uma proibição dá margem ao surgimento de outra. E de outra. E esse, como já dito, não é o objetivo do Biodireito.

Os teólogos costumam dizer que o dogma “não matarás” tem uma ligação íntima com a questão da alma, o que significa que, com a fecundação, uma nova alma se formou e, realizando-se pesquisas em embriões, esta mesma alma se perderia. O que me incomoda é pensar que o lixo é um lugar melhor para essa alma que o implemento de qualidade de vida dos enfermos que poderão ser amparados pelo resultado das pesquisas. Essa aritmética é muito infeliz.

Se a ciência e a religião quase nunca andaram de mãos dadas, folgo em saber que ainda vivemos em um país laico, que prevê a separação dos poderes e entre eles não se encontra um destinado à religião. A religião é uma escolha de foro íntimo e assim deve ser mantida. Não pode qualquer uma delas pretender mudanças na legislação já posta, que impedirá melhora na qualidade de vida de tantos brasileiros.

O que é mais coerente é deixar que as pessoas escolham o destino do produto da junção de seu DNA. Aliás, tal postura não impede que as pessoas contrárias à Lei de Biossegurança não autorizem a pesquisa sobre seus embriões.

Se o STF confirmar a constitucionalidade da norma que trata de biossegurança, evitará que uma “multidão” de embriões sejam destinados ao lixo, e também estará consagrando o direito de escolha de pessoas que não comungam dos dogmas de várias religiões, jogando um pouco de luz sobre a momentânea névoa do obscurantismo que pairou sobre o Brasil.

As pesquisas sobre as células-tronco embrionárias não pretendem reduzir ao sentido biológico ou genético o que entendemos por vida, mas sim, traçar uma nova possibilidade de futuro para os nossos doentes e dar a cada um de nós a possibilidade de escolher qual será o destino de nosso código genético. E se tivermos tal possibilidade, porque não fazê-lo?

Nenhuma das pessoas envolvidas nas pesquisas com células-tronco embrionárias está dizendo que o embrião não é vida, mas sim que o resultado das pesquisas certamente vai ajudar as pessoas que já estão aqui, entre nós, neste momento. E para minha sorte, os fósforos da Inquisição não podem mais ser usados.

Quarta-feira, 5 de março de 2008