Alzheimer e Parkinson e as Incertezas da Genética e das Células-Tronco
A geneticista Mayana Zatz comenta a importância de estudos recentes e o futuro da genética no país.

Em sua coluna na Revista Veja, segmento pesquisas, Zatz comenta um estudo recente sobre a proteína Tau que, quando alterada, se propagaria no cérebro causando a doença de Alzheimer. O trabalho demonstrando o comportamento anormal da proteína no cérebro de camundongos foi publicado na revista PlosOne.
Zatz aborda, também, outra pesquisa, ainda mais importante, publicada na revista Nature Medicine (29 de janeiro), mostrando que a deficiência da Tau na sua forma solúvel – não a proteína anormal – seria a responsável pelo acúmulo de ferro na doença de Alzheimer e Parkinson com demência, ocasionando a morte dos neurônios.
Ela diz: “E o que é mais animador é que os autores dessa pesquisa propõem uma nova abordagem terapêutica baseada nesses achados. A “tau” da proteína parece realmente importante.”
“Sabemos que a proteína Tau, quando anormal, forma emaranhados neurofibrilares no cérebro de pacientes com doença de Alzheimer (DA), Parkinson (DP) e outras doenças degenerativas do cérebro. (...). Entretanto, pouco se sabe sobre a função normal da Tau e como ela atua nessas patologias”, esclarece Zatz
Deficiência de Tau e acúmulo de ferro
Os autores dessa nova pesquisa descobriram que os níveis solúveis da proteína Tau estavam diminuídos no cérebro de pacientes que haviam falecido com a DP. Por outro lado, outras pesquisas já haviam reportado acúmulo de ferro no cérebro de pacientes com DP, na córtex de pacientes com DA e em outras regiões cerebrais. Isso levou os pesquisadores a levantar então a seguinte hipótese: seria a deficiência da Tau responsável pelo acúmulo de ferro? Para responder essa questão geraram camundongos transgênicos deficientes para essa proteína.
O que foi observado nos camundongos deficientes para Tau?
Como os sintomas tanto da DP como da DA só aparecem em idade avançada, havia a expectativa de que nos camundongos transgênicos isso também poderia acontecer. De fato, até os 6 meses de idade eles se comportavam como animais normais. Aos 12 meses, porém, a diferença era gritante. Os animais transgênicos apresentavam perda cognitiva, tinham alterações severas na locomoção e em todos os testes funcionais quando comparados com os camundongos controles. Além disso, sabe-se que em pacientes com a DP há uma perda e disfunção dos neurônios dopaminérgicos, responsáveis pela produção da dopamina. Isso também foi observado nos camundongos transgênicos. Eles tinham acúmulo de ferro no cérebro e 40% menos neurônios dopaminérgicos em comparação aos controles normais.
Qual foi o próximo passo?
A próxima questão era saber se o quadro clínico nos animais transgênicos poderia ser evitado com uma droga que diminui o acúmulo de ferro no cérebro dos animais. Os camundongos foram então tratados com clioquinol, uma droga que tem esse efeito – a partir dos 6 meses e durante 5 meses. E então a boa notícia: o tratamento evitou o início da degeneração. Entretanto, uma questão ainda a ser resolvida é que nesses animais, diferentemente dos seres humanos, a doença não progride após os 12 meses o que representa uma limitação do modelo.
Qual a importância dessa pesquisa?
Em resumo, ela demonstrou que a deficiência da Tau causa um acúmulo tóxico de ferro no cérebro e que animais geneticamente modificados com deficiência dessa proteína são um bom modelo para pesquisar as alterações patológicas que causam doença de Parkinson e Alzheimer. Os achados demonstraram que, além de formar agregados tóxicos no cérebro na sua forma anormal, a Tau também é necessária para prevenir danos associados ao envelhecimento. Portanto novas abordagens terapêuticas que mantenham a solubilidade da Tau e sua abundancia poderão ser muito promissoras. Repito: aprofundar as pesquisas com a “tau” da proteína será muito importante, alerta a geneticista.
Sobre as incertezas da genética e das células-tronco – Sabatina com Mayana Zatz promovida pela Folha de S.Paulo em 13/fev/2012
Zatz explica que ainda é cedo para falar em tratamento de humanos por meio de células-tronco.
Acompanhe os principais trechos da sabatina:
Tratamento
Exames genéticos
Burocracia
Religião
Expectativas
Ética
Genes “fúteis”
Futuro da genética
Referências