Santa Dulce dos Pobres (Blog N. 043 do Painel do Coronel Paim) - Parceria: Jornal O Porta-Voz
domingo, 21 de outubro de 2012
Grupo que se submeteu aos primeiros testes conseguiu se livrar ou diminuir as aplicações de insulina
Herdeiros de uma técnica idealizada pelo reumatologista Julio César Voltarelli, morto em março deste ano, estão obtendo respostas favoráveis ao controle do diabetes tipo 1, doença considerada infanto-juvenil por atacar, principalmente, a população mais jovem. Um grupo de voluntários que se submeteu aos primeiros testes conseguiu se livrar das aplicações de insulina ou, ao menos, diminuir as doses do hormônio.
O tratamento é baseado na aplicação de células-tronco. Os estudos sob a coordenação de Voltarelli, iniciados há seis anos, ganharam seguidores fora do Brasil — na Polônia e na China — e prosseguem com desdobramentos desenvolvidos por médicos do Hemocentro e do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, no interior paulista, juntamente com especialistas dos Estados Unidos, da França e Inglaterra.
A atual coordenadora dos trabalhos, a reumatologista Maria Carolina de Oliveira Rodrigues, explicou que tanto o diabetes tipo 1 quanto o 2 são caracterizados por provocar aumento no nível de glicose no sangue. O tipo 1 é menos frequente, mas também tem prevalência significativa. Quem sofre do mal têm gradual falência do pâncreas, devido à destruição das células que produzem insulina, hormônio essencial para o controle do nível de açúcar.
O tratamento tradicional é a aplicação regular de insulina, “o que afeta a qualidade de vida dessas pessoas e ainda aumenta os riscos de, no futuro, se desenvolver problemas nos rins, nos nervos e de vista”, salientou a médica. Segundo ela, quando o paciente recebe o diagnóstico da doença, normalmente, ainda tem preservados entre 20% a 30% do pâncreas. É nessa porção de vida da glândula que os pesquisadores iniciaram a busca do controle do mal, em 2004, sob a coordenação de Voltarelli, com o uso das células-tronco.
Na primeira etapa da pesquisa, encerrada em 2010, foram feitos testes em 25 voluntários. Os tratamentos consistiram na coleta e congelamento de células-tronco hematopoiéticas – percussoras dos glóbulos sanguíneos - da medula óssea. Em seguida, esses voluntários passaram por sessões de quimioterapia agressiva para destruir o restante da medula e zerar o sistema imunológico. Posteriormente, eles receberam as células-tronco congeladas para reconstituir a medula e as células sanguíneas.
“O resultado foi muito bom”, avalia a médica Maria Carolina, relatando que o nível conquistado surpreendeu a equipe. Das 25 pessoas que se submeteram ao tratamento, 21 deram respostas favoráveis. Três delas ficaram livres das aplicações de insulina e 18 voltaram a necessitar do hormônio, depois de um período de seis meses a cinco anos, mas em doses menores do que antes dos transplantes.
— Não pode se dizer que estejam curados, mas com a doença controlada.
Na segunda fase, em andamento, os pesquisadores tentam obter melhor eficácia por meio de uma quimioterapia mais forte. O que se busca é que o paciente saia, totalmente, da dependência de insulina. Até agora, somente dois voluntários se apresentaram para se submeter aos testes.
Esses estudos estão sendo feitos no Centro de Terapia Celular (CTC), um dos centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP/USP), em interação com pesquisadores dos Estados Unidos, da França e Inglaterra.
De acordo com a coordenadora desses trabalhos, o Brasil foi pioneiro nos experimentos e, após a divulgação em artigos científicos, a mesma técnica do transplante de células-tronco foi adotada em testes na Polônia e na China.
Em pesquisa paralela, que começou em 2008, com a participação de oito pacientes diabéticos, foram feitas aplicações de células mesenquimais — que estão presentes em todo o corpo e compõem o tecido conjuntivo — retiradas de um parente do diabético. Nesse caso, a intenção foi atacar a inflamação do pâncreas pela regeneração do tecido. Porém, como a quantidade de células encontradas é insuficiente para as aplicações, parte delas é multiplicada em laboratório.
Nesses tratamentos, no entanto, metade dos pacientes — todos crianças — não obteve resultado esperado, e nos demais — todos adultos — apenas dois conseguiram reduzir a necessidade de insulina. Os pesquisadores pretendem renovar os testes com o aumento da coleta das células mesenquimais. Os interessados podem enviar e-mail para o endereço tmoautoimune@gmail.com. É necessário ter a partir de 18 anos e haver sido diagnosticado com a doença há pelo menos cinco anos.
terça-feira, 9 de outubro de 2012
Britânico e japonês ganham prêmio Nobel de Medicina
Por O Globo | Agência O Globo – seg, 8 de out de 2012rDESTAQUES EM MUNDO
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ESTOCOLMO - Os cientistas que renovaram a pesquisa de células-tronco e abriram caminho para uma revolução na engenharia de tecidos são os ganhadores do Prêmio Nobel de Medicina de 2012, anunciado esta manhã, pelo Instituto Karolinska, na Suécia. Os nomes do britânico John Gurdon e do japonês Shinya Yamanaka estavam entre os favoritos para receber o prêmio. Gurdon por ter feito nos anos 60 as descobertas fundamentais que levaram Yamanaka, décadas depois, a encontrar um caminho para obter uma nova fonte de células-tronco, quase tão versáteis quanto as embrionárias.
Yamanaka é um dos especialistas em engenharia de tecidos mais conhecidos do mundo. O instituto que concede o Nobel de Medicina informou em nota que os dois foram premiados por terem descoberto que células-maduras e especializadas podem ser reprogramadas para se transformar em células imaturas capazes de se desenvolverem em todos os tecidos do corpo. "Suas descobertas revolucionaram nosso conhecimento de como as células se organizam e se desenvolvem", disse a nota do Karolinska.Diferentemente de várias outras descobertas laureadas com o mais importante prêmio da medicina, os trabalhos de Gurdon e Yamanaka têm aplicação direta no desenvolvimento de novas terapias celulares. Em 1962, John B. Gurdon rompeu um paradigma da ciência ao mostrar que a especialização das células é reversível. Numa experiência hoje clássica e na época herética, ele substituiu as células imaturas do núcleo de um óvulo de um sapo pelo núcleo de uma célula intestinal madura. Com isso, ele modificou o óvulo que se desenvolveu como um girino.
Gurdon provou que o DNA da célula madura ainda tinha toda a informação necessária para desenvolver todas os tipos de células que formam um sapo. Quatro décadas depois, Yamanaka descobriu como fazer para que células adultas de camundongos fossem reprogramadas em células-tronco imaturas. Realizada em 2006, a descoberta teve imenso impacto na altamente competitiva pesquisa de células-tronco. Na semana passada, por exemplo, estudos do próprio Yamanaka e colegas na "Science" mostraram ser possível usar células reprogramadas para criar óvulos de camundongos que puderam ser fertilizados e gerar filhotes normais, numa pesquisa que abriu caminho para combater a infertilidade.
Na pesquisa premiada com o Nobel, Yamanaka descobriu que a introdução de alguns poucos genes pode reprogramar célula adultas ao estágio de células-tronco pluripotentes, capazes de originar numerosos tecidos do corpo. As chamadas células-tronco de reprogramação induzida são vistas como uma das mais acessíveis e promissoras fontes de células para a engenharia de tecidos, área que acena com a possibilidade de tratamentos para problemas tão diversos quanto infarto e mal de Parkinson.
O trabalho dos dois pesquisadores revelou ao mundo que as células são muito mais flexíveis do que jamais poderia se imaginar. Elas não estão confinadas para sempre num estágio especializado. Para as células, rejuvenescer totalmente, da maturidade ao estágio de embrião é possível. O segredo está nos genes que apagam a memória da especialização e as faz de novo flexíveis como as de um embrião. Gurdon e Yamanaka mudaram os livros de medicina e reescreveram a ciência.
John Gurdon trabalha no instituto que leva o seu nome em Cambridge, Inglaterra. Ele tem 79 anos. Shinya Yamanaka tem 50 anos e trabalha na Universidade de Kioto, no Japão.
quarta-feira, 3 de outubro de 2012
Cientistas preveem tratamento eficaz
para o Alzheimer em 5 anos
O uso de células-tronco pode ser a saída para os pacientes da doença incurável
Getty Images
O cientista japonês Kiminobu Sugaya, que participou da Conferência Internacional sobre Novas Descobertas do Cérebro, no Panamá diz acreditar na possibilidade de um tratamento a médio prazo.
- Penso que estamos quase prontos para fazê-lo [o tratamento eficaz], acho que em cinco ou seis anos.
Os cientistas correm contra o tempo para encontrar um tratamento para esta doença neurológica que leva à perda progressiva da memória e da linguagem, e para a qual não há cura por enquanto. Há estudos muito avançados que demonstram que aumentando o número de células no cérebro de um paciente é possível deter o Alzheimer, explicou Sugaya, professor de neurociência da Universidade Central da Flórida, nos Estados Unidos.
Para isto são necessárias células-tronco, tiradas da etapa pré-natal de uma pessoa, que teriam que ser transplantadas ao paciente caso ele padeça de Alzheimer. O objetivo é que as células-tronco se transformem em neurônios saudáveis, que substituam os neurônios doentes, algo que Sugaya disse ter testado com sucesso em ratos.
O presidente da empresa americana Intellect Neurosciences Inc., dedicada ao estudo do Alzheimer, Daniel Chain, diz que os medicamento são o próximo passo.
A beta-amiloide é uma proteína que se acumula no cérebro dos doentes de Alzheimer, criando uma espécie de emaranhado que dificulta a comunicação entre as células, explicou. Para Chain, os remédios não só deteriam o avanço da doença, como também poderiam restaurar os danos no cérebro do paciente.
- Nenhum dos fármacos que estão disponíveis hoje no mercado são eficazes contra a doença.
A cientista panamenha Gabrielle Britton, do Centro de Neurociências do Panamá, também diz que os medicamentos disponíveis hoje não são eficientes na luta contra o Alzheimer.
- Eles são administrados para melhorar a vida diária, mas não estão fazendo nada no cérebro para retardar o avanço do mal. O maior desafio agora é poder identificar um biomarcador [uma proteína ou um gene] que nos permita poder dizer, 'esta pessoa vai ter Alzheimer', para lidar com a doença desde cedo.
Os especialistas asseguram que o Alzheimer têm um componente genético em 10% dos casos. Segundo afirmou Britton, metade dos maiores de 85 anos no mundo sofrem de algum tipo de demência e a mais comum entre elas é o mal de Alzheimer. A doença deve seu nome ao psiquiatra e neurologista alemão Alois Alzheimer (1984-1915), que no começo do século XX identificou seus sintomas e a degeneração que causa no cérebro.
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